segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Rosemberg: Iluminação Profana ou Fantasias Imagéticas



Colagem de Luiz Rosemberg Filho



Se compreendermos a palavra como imagem e o som como movimento perceberemos que em REVISÃO CRITICA DO CINEMA BRASILEIRO, Glauber Rocha já antecipara em décadas a HISTÓRIA (S) DO  CINEMA , de Jean-Luc Godard.
As relações entre História e Cinema são apaixonantes e só os não-tímidos se atrevem sem petulância ou pedantismo percorrer as paisagens da história no tapete escatalógico do dinheiro.
O cineasta Luiz Rosemberg Filho, nestes tempos de mutismo cinematográfico pseudo-imagético,  desconstrói sonhos que espectadores cegos, surdos e mudos assistem no silencio e na solidão desta câmara mortuária que chamamos civilização.
Poderíamos chamar de iluminação profana o cinema de Luiz Rosemberg. Na historia do cinema de Rosemberg a imagem é o Prometeu traído pelos Deuses e pelos humanos. Apaixonado por Rosselini e Visconti, vejo Rosemberg no entanto próximo dos Straub no rigor e na sujeira dos planos.
Chamo sujeira esta exigência poética do cineasta que dá ao espectador não contemplação mas ação. Ver é pensar. Pensar é agir. Imagem é pensamento e ação. Nesse contexto se dá as referências a Walter Benjamin no cinema de invenção de Rosemberg.
EM O DISCURSO DAS IMAGENS, Rosemberg dialoga com “As Aventuras da Mercadoria”, de Anselm Jappe  iluminado pela indagação de Baudelaire se é possível fazer poesia no capitalismo.  Este filme atualiza para além de Guy Debord e dialoga com o Grupo Krisis.
 Chamo o cinema de Rosemberg de “benjaminiano” porque este é o cinema do pensamento-imagem – “denkenbild”. Sua obra – escrita ou filmada –  em parceria com Sindoval Aguiar, Renau Leendhart, companheiros de travessia, sabedores que não nenhuma Ítaca para alcançar ou chegar.
O DISCURSO DAS IMAGENS é uma síntese do cinema mundial. O recado de Sylvester Stallone – OS MERCENÁRIOS – é bacana: os Estados Unidos se desculpam muito. Diante da voracidade norte-americana ser modesto ou tímido é criminoso. Esta obra de Rosemberg é a nossa resposta ao melhor do cinema coreano, chinês, indiano, latino-americano, ao cinema independente americano.
Um filme para se ouvir com os olhos e assistir com os ouvidos. Não é só um jogo de palavras. A ação no cinema é um plano para destruir a impotência do não-pensar, o conformismo do amor, as narrativas falsas emancipadoras como a idolatria pelo mercado.
A beleza é o terror. Aterrorizar-se é um sinal de lucidez, de iluminação profana. A iluminação profana de Rosemberg é essa recorrência à Goya: as imagens do discurso, em curso, revelam os monstros criados pela razão.
Litza Godoy estabelece uma cumplicidade perigosa com o espectador. É uma anti-narrativa, uma desleitura,  é a imagem em discurso, guerra ao terror da tolice visual e auditiva que domina o que se chama de civilização.  Dela emergem as imagens que não queremos ver. Ou que não podemos mais pela proximidade destas mesmas imagens.
A origem é o alvo, diz Karl Kraus. Rosemberg processa um cinema das origens, descontínuo, um cinema que só empalidece quem tem sangue nas veias. Cultura ou nádegas? E o fim no começo como sempre.

Leonardo Carmo é radio-amador e trabalha como coveiro de Nova Alexandria, Goiás.

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