Luiz Rosemberg Filho, cineasta brasileiro cuja obra faz uma crítica ao que poderíamos chamar uma maneira infame de fazer Cinema.
Nesta entrevista uma pequena mostra de seu pensamento político e estético. No final do bate-papo podemos conferir o curta-metragem TRABALHO, inventiva crítica ao DAS KAPITAL.
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Luiz Rosemberg Filho - colagem |
Leonardo Carmo – o senhor dirigiu a atriz Adriana Prieto (1950-974) no longa metragem Balada da Página 3, em 1968. Seu cinema é tecido de atrizes imbatíveis: Katia Grumberg, Ana Maria Miranda, Analu Prestes, Adriana de Figueiredo. Que atriz o encanta hoje no cinema brasileiro?
Luiz
Rosemberg Filho – Acho que antes tínhamos mais opções sólidas pois as boas
atrizes vinham do Teatro. Não eram vedetinhas de novelas e sim verdadeiramente
atrizes. Eu não consegui mais ver no nosso cinema frescura ou frescor criativo
de uma Isabel Ribeiro, Glauce Rocha, Dina Sfat. As de hoje, parecem todas
marombeiras da “ Malhação”. Atriz ou ator virou isso: marombeiros de
monstruosidades midiáticas do capitalismo. Sistema econômico que não suporta o
encantamento e a magia. Mas...amos acreditar numa novíssima geração como a
talentosa Barbara Vida, Mariana Dias...
LC – Lutero Luiz
LRF – Sempre achei a direção de atores quase um casamento entre almas arteiras. Cada ator tem o seu EU e é preciso desvendá-lo para melhor servir ao Personagem. E o que sustenta uma boa interpretação é um estado doce de encantamento, de procura, de verdade – nem sempre muito claro na dinâmica do entendimento. Ousaria dizer que o trabalho de direção é uma espécie e gozo fantástico, mais muito subjetivo.Às vezes passa, às vezes não. É como a música para o compositor que pode ser um acontecimento definitivo como as músicas do Johan Sebastian Bach, ou ficar na “ Eguinha Pocotó”. E, em não sendo de modo algum teórico como o Eisensein ou o Brecht, diagnosticar um processo tão subjetivo que passa pelo saber, pela sensibilidade, pelo encantamento, pelo comprometimento e pelo medo nem sempre dá para explicar por palavras. Cada ator/atriz tem múltiplos processos de abordagem. O Renato Coutinho por exemplo queria alimentar-se de silêncio e medos. Queria chegar no seu personagem pela dor da perda e da velhice eminente. Conversávamos muito,mas nem sempre pela sua personagem mas por múltiplos caminhos possíveis. Já com a Analu Prestes, era uma festa permanente. Foi sempre uma atriz muito instintiva e ousada. Acho que se a A$suntina fosse outra, teríamos um outro tipo de filme. Ela me pareceu fundamental para o filme, que foi pensado em Paris para ela. Cheguei com o roteiro pronto e a convidei uma vez mais. Amei a sua ousadia. E a filmei anos depois para um documentário sobre seu trabalho em artes plásticas. A Analu pode ser tudo e é muito gente!
LC – omo o senhor avalia a crítica cinematográfica brasileira atual? O que é fundamental para ser um crítico de cinema?
LRF – Fundamentalmente a-m-a-r muito o cinema, a literatura, a filosofia, a músia, o teatro, a vida propriamente dita. Atualmente eu leio muito pouco o único jornal que temos no Rio e eu não é bom. Antes tínhamos o Alex Viany, o Muniz, o Jaime Rdorigues, o Zé Lino, o Gustavo Dahl e até mesmo o Cacá Diegues que escreve melhor do que filme. E já o defendi em dois de seus filmes. Mas está longe de ser um grande cineasta. Hoje temos quem? O Marcelo Ikeda e o Carlinhos Guimarães de Mattos – quer raramente me chega ás mãos. Pena. Acho que São Paulo tem mais críticos. Mas, não sei, pois pouco leio o Estadão e a Folha.
LC – O senhor sente falta de publicações sobre cinema e sobre cinema brasileiro
LFR – Eu sempre me preocupei muito com isso e até cheguei a organizar um livro com vários depoimentos do Godard, na época proibido pela sua versão do “ Maria”, mãe de Jesus. Estava proibido nos cinemas e liberado
LC – As suas colagens, que ilustram seus textos na coluna Cinema de Invenção -, no extinto site VIA POLÍTICA, tem o mesmo princípio da montagem cinematográfica. Poderia comentar qual o pensamento embutido nessas colagens?
LRF – Digamos que as colagens são uma apropriação e transformação de imagens muito comuns, quase idiotas. Trabalho sobre o lixo, querendo pensar tanto a história, como o cinema. Políticos, bundas, peitos e quinquilharias acabam virando análise de olhares mais atentos, como o teu por exemplo. Por outro lado, faço-as como terapia, assim como penso e escrevia para o Via Política, que é um seguimento afetivo do velho Versus. Mas não escrevo como crítico, teórico ou historiador. Escrevo como amigo do Matico e velho cineasta que bota no papel algumas reflexões do politólogo e amigo de juventude Sindoval Aguiar.Ele foi um cineasta delicado que agora se diz ex-tudo. Mas é também um poeta exemplar. Deveria ter feito política, mas também odeia todos os Partidos. Gosto de discutir e escrever com ele. Somos diferentes quanto ao entendimento do no que foi transformado o cinema: para ele já acabou. Eu ainda insisto em ser chato! Não vejo mais tudo como via antes, mas ainda me emociona ver trabalhos inovadores como Anticristo, Serras da Desordem, o cinema de Agnes Vardas, Visconti, Straub, Pasolini, Kubrick, Resnis, Rivette e alguns Bertolucci. Sem falarmos em Glauber, Joaquim Pedro, Joel Yamagi, Sergio Santeiro...
LC – Seus filme mais recentes – curta-metragens – estão disponíveis no Via Política. Em As Últimas Imagens de Tebas, pareceu-me que o senhor usa cinema pra uma crítica do processo de fazer cinema. Um filme mostrando ao cinema que ainda e possível fazer filmes.
LRF – Não disse, mas amo muito o cinema-histórico filosófico do mestre Roberto Rossellini. Quando foi para a TV, usou magistralmente o cinema e a TV, para pensar a história e o saber – sem abrir mão da poesia. Fez uma política nova e viva com o cinema e a TV. “ Tebas” foi um trabalho ousadíssimo que me encantou fazê-lo tal como está: mudo! Os textos são cicatrizes do saber trágico. Usei os recursos das Colagens para mostrar que o cinema ainda pode ser simples, criativo e original. Desagradou a todo mundo, mas amei fazê-lo tal como esta. Sei que o Ikeda gostou e o queridíssimo Mario Alves Coutinho também. É uma viagem livre associada a velha Tragédia Grega. Estranhamente vivido por mim que não sou ator. Valeu a pena a ousadia, pela poesia, pela complexidade, pelo exercício e pela potência, pois foi um desafio proposto pelo querido Marcelo Ikeda para que eu fizesse um filme mudo.Claro, escolhi os dois “ Édipos” com a mais ampla liberdade. A colaboração afetiva do André Scucato foi da maior importância pois me deixou livre para voar em condições no momento depressiva, pois estava cego com problemas de catarata. Depois do “ Tebas” já fiz “ O Discurso das Imagens”, concluídas com a colaboração do Lupercio Bogea. Desertos”, com o talento Pedro Bento. E falta editar “ Trabalhos” e “Fragmentos”. Isso feito vou dar um tempo, pois preciso cuidar um pouco mais de mim.
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