domingo, 13 de novembro de 2011

Casamento Com a Morte

Quem, se não nós? , nas salas de cinema Se não nós, quem?, filme de Andres Veiel, narra a história de Bernward Vesper e Gudrun Ensslin. O filme é baseado no romance póstumo de Vesper,  é considerado um legado para a sua geração.


Gundrun e Vesper dançando na festa de casamento
         Ele, filho de um escritor marcadamente nazista. Ela, uma promissora estudante de Literatura. No processo dos anos 1960, Gudrun encontra no voluntarismo político a arma eficaz de combate  contra o fascismo que ela crê instalar-se na Alemanha e no mundo. A escrita migra para explosões e tiroteios.
         Essa é a munição para as duas horas do filme que mergulha o espectador num complexo processo entre ficcionalização da história e historização da ficção. A velocidade mental de Andreas e Gudrun deixa sem fôlego esses videogames mortais. O que fascina ainda mais ao menos para alguns é que tudo isso se dá um país que ocupa o imaginário de milhões: a Alemanha. Mítica. Racional. Wagneriana.  Romântica. Hitlerista. Comunista. Um país com o imaginário além do futebol.
        Nessas breves notas me dedico mais a comentar o filme que analisá-lo. Por isso, penso que ele pode ser melhor curtido se lembrarmos ao espectador uma outra película alemã com o mesmo tema e personagens.
         Refiro-me ao filme O Grupo Baader Meinhof, (2009)  outro triller psicológico focado nas ações terroristas do grupo e suas influências sobre juventude alemã. Dirigido por Uli Edel,  baseado no livro de Stefan Aust. É significativo que os dois filmes sejam baseados em obras literárias.


Ulrike Meinhof, Andreas Baader e Gudrun Ennlins, núcleo inicial
Do Grupo Baader-Meinhof
         A Literatura e o seu ensino na Alemanha pós-guerra, os escritores nazistas e os que se exilaram no período hitlerista. Os autores atuais – no contexto do filme, como diz um professor, vocês estudantes se refugiaram nos clássicos alemães -  de um país dividido, a qualidade das obras em debates públicos e em reuniões de ativistas, fermento para mostrar que mesmo equivocados esses jovens radicais não desprezavam a cultura literária.
       Mais, a cultura literária serve de guia de orientação para que se entenda muito da contextualização do filme.  Quem, se não nós?, traz esses debates mais a tona que o filme de Uli Edel. Mas, pode-se dizer que eles se completam, se complementam. Ambos são indispensáveis para uma reconstrução cinematográfica da história alemã contemporânea.
         Estes filmes encontram eco no debate atual das revoltas em Londres ou das manifestações na Espanha mais recentemente. A recusa à social-democracia é o pano de fundo dos filmes. Hoje, o descontentamento nos bairros londrinos são avaliados diferentemente tanto por filósofos conservadores como Roger Schruton e iconoclastas como Slavoy Zizek.
          Imagens documentais da época como o alegre bombardeio dos americanos sobre os vietnamitas, a morte de Jack Kennedy e Martin Luther King, a presença dos Panteras Negras,  A Dialética da Libertação de Stokly Carmichael e a contracultura estão na ambientação dos dois filmes.
        Um ponto polêmico nos filmes e deve ser um dos mais doloridos para a consciência alemã está no final. No filme de Veiel, Gundrun  e todos os outros integrantes do Baader Meinhof se matam. Isso não aparece de forma explícita. O nome de Ulrike nem mesmo é mencionado.  O que marca talvez percepções políticas entre os dois diretores. No filme de Uli Edel, os militantes são sistematicamente eliminados à tiros em suas celas.
       O extremismo desses militantes de qualquer modo reforçaram o estado policia-militar que conhecido também como Estado de Direito, Estado Democrático. Uma discussão problemática. Mas poeticamente, talvez em nome da dor, pode-se dizer que Gudrun e Ulrike sejam guerreiras Valquírias, embora nada tivessem de virgens.Para usar uma imagem recorrente, o espectador ao entrar na sala de cinema dá de cara com um pesadelo.


Vesper, Gudrun e Andreas: 
como combater o fascismo?
       
      E ao sair da sessão, o pesadelo continua. Ao  menos para aqueles que mesmo discordando da violência e do terrorismo não podem desconhecer os crimes cometidos em nome da democracia. A morte mais violenta, a invisível, o venenoso e viciante gás do consumo mata com a mesma letalidade. Ou não?
     Nesse caso, se a pizza não descer depois do filme, ouvir a banda Rammstein, cai bem. Heirate Mich, por exemplo. E mesmo com tantos desacertos Gudrun Ensslin e Ulrike Meinhof merecem a canção. Talvez acalme o espectador. Mas, não apazigua a consciência e a exigência de pensarmos o presente.
    
Leonardo Carmo, é tarólogo e atende gratuitamente no trevo de Goiânia para Trindade.

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